<\/div>\n\n\n\n
<\/p>\n\n\n\n
Terap\u00eautica antidepressiva ou antidepressora<\/h2>\n\n\n\n Existem atualmente v\u00e1rias teorias que tentam explicar os mecanismos fisiopatol\u00f3gicos das perturba\u00e7\u00f5es depressivas. A teoria das monoaminas baseia-se na ideia de que a depress\u00e3o resulta de uma diminui\u00e7\u00e3o da atividade dos sistemas noradren\u00e9rgicos e\/ou serotonin\u00e9rgicos. Apesar de comummente aceite, esta teoria apresenta algumas limita\u00e7\u00f5es que outros estudos tentaram ultrapassar, como a teoria que aponta a falha dos mecanismos de regula\u00e7\u00e3o homeost\u00e1ticos nos sistemas neurotransmissores ou a hip\u00f3tese de a diminui\u00e7\u00e3o da atividade dopamin\u00e9rgica no sistema mesol\u00edmbico contribuir para o aparecimento destas perturba\u00e7\u00f5es.4<\/sup> <\/p>\n\n\n\nA utiliza\u00e7\u00e3o de f\u00e1rmacos antidepressores, usualmente conhecidos com antidepressivos, tem aumentado significativamente durante a \u00faltima d\u00e9cada. Entre as poss\u00edveis raz\u00f5es para este facto est\u00e3o n\u00e3o s\u00f3 o aumento do n\u00famero de antidepressores dispon\u00edveis e a maior amplitude de indica\u00e7\u00f5es terap\u00eauticas, mas tamb\u00e9m uma maior sensibiliza\u00e7\u00e3o para a doen\u00e7a e aceita\u00e7\u00e3o para o tratamento por parte dos doentes e da sociedade. Existem dispon\u00edveis no mercado v\u00e1rias classes de antidepressores, com diferentes propriedades farmacocin\u00e9ticas e farmacodin\u00e2micas, diferentes perfis de seguran\u00e7a e com uma grande amplitude de indica\u00e7\u00f5es terap\u00eauticas. Em geral, os antidepressores t\u00eam efic\u00e1cia semelhante, quando administrados em doses compar\u00e1veis.4<\/sup> A escolha do antidepressor dever\u00e1 ter como base a sua tolerabilidade, seguran\u00e7a, menor custo, bem como a hist\u00f3ria individual do doente e os antecedentes de resposta a tratamentos realizados anteriormente.5<\/sup> Independentemente do antidepressor escolhido, o seu in\u00edcio de a\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 imediato. Em m\u00e9dia, a redu\u00e7\u00e3o de cerca de 50% da intensidade dos sintomas ocorre entre as 4 e as 8 semanas ap\u00f3s a institui\u00e7\u00e3o da terap\u00eautica, altura em que se deve proceder a uma reavalia\u00e7\u00e3o cl\u00ednica do doente.6<\/sup> Se n\u00e3o houver uma resposta adequada \u00e0 terap\u00eautica, poder\u00e1 ser necess\u00e1rio alterar o antidepressor institu\u00eddo ou associar um outro antidepressor com um mecanismo de a\u00e7\u00e3o diferente e complementar. Nos casos particulares de depress\u00e3o psic\u00f3tica, \u00e9 recomendado associar-se ao tratamento com antidepressor um antipsic\u00f3tico.4-6<\/sup> Na maioria dos doentes o tratamento antidepressivo deve prolongar-se por 9 a 12 meses ap\u00f3s uma resposta terap\u00eautica adequada.<\/p>\n\n\n\n<\/div>\n\n\n
\n
Fonte: Centro de Informa\u00e7\u00e3o do Medicamentos (CIM)<\/figcaption><\/figure><\/div>\n\n\n<\/div>\n\n\n\n
Antidepressores tric\u00edclicos (ADTs)<\/h2>\n\n\n\n Estes foram os primeiros antidepressores a surgir. Foram sintetizados a partir da cloropromazina, um antipsic\u00f3tico que tem uma estrutura qu\u00edmica com tr\u00eas an\u00e9is benz\u00e9nicos, da\u00ed a designa\u00e7\u00e3o de compostos tric\u00edclicos.\u00a0Os antidepressores tric\u00edclicos s\u00e3o os seguintes:<\/p>\n\n\n\n
Imipramina (nome Tofranil)<\/li> Amitriptilina (nome comercial Tryptizol)<\/li> Clomipramina (nome comercial Anafranil)<\/li> Maprotilina (nome comercial Ludiomil)<\/li> Dosulepina (nome comercial Protiadene)<\/li> Nortriptilina (nome comercial Norterol)<\/li><\/ul>\n\n\n\nS\u00e3o f\u00e1rmacos muito eficazes, mas associados a m\u00faltiplos efeitos secund\u00e1rios e toxicidade quando ingeridos em sobredosagem. Todos os antidepressores tric\u00edclicos bloqueiam a recapta\u00e7\u00e3o de noradrenalina (NA). Contudo, existem alguns mecanismos de a\u00e7\u00e3o paralelos como a inibi\u00e7\u00e3o do transportador de serotonina e o antagonismo dos recetores serotonin\u00e9rgicos 5HT2A e 5HT2C. Adicionalmente, os ADTs tamb\u00e9m podem apresentar propriedades antagonistas dos recetores de histamina H1, \u03b1-adren\u00e9rgicos, muscar\u00ednicos e podem bloquear os canais de s\u00f3dio sens\u00edveis \u00e0 voltagem, estando estas a\u00e7\u00f5es associadas aos seguintes efeitos secund\u00e1rios:<\/p>\n\n\n\n
Antagonismo H1 – Aumento de peso, sonol\u00eancia. <\/li> Antagonismo muscar\u00ednico – Boca seca, obstipa\u00e7\u00e3o, vis\u00e3o turva, reten\u00e7\u00e3o urin\u00e1ria. <\/li> Bloqueio \u03b11-adren\u00e9rgico – Hipotens\u00e3o ortost\u00e1tica, tonturas. <\/li> Bloqueio canais de Na+ sens\u00edveis \u00e0 voltagem – Sobredosagem: convuls\u00f5es, coma, arritmias, paragem card\u00edaca e morte. <\/li><\/ul>\n\n\n\nPor este motivo esta classe farmacol\u00f3gica n\u00e3o constitui a primeira linha de tratamento, sendo utilizada normalmente em doentes refrat\u00e1rios.4,7<\/sup>\u00a0Posteriormente, desenvolveram-se outras mol\u00e9culas com as mesmas caracter\u00edsticas farmacol\u00f3gicas, mas com diferentes estruturas qu\u00edmicas. Surgiram assim o grupo dos tetrac\u00edclicos e os grupos com estruturas afins. O conjunto destas mol\u00e9culas representa atualmente um grupo heterog\u00e9neo com efic\u00e1cia reconhecida, designados por antidepressores tric\u00edclicos e afins. Destes fazem parte a trazodona e a mirtazapina.<\/p>\n\n\n\nTrazodona antagonista e inibidor da recapta\u00e7\u00e3o da serotonina<\/h2>\n\n\n\n A trazodona<\/strong> (nomes comerciais Triticum e Trazone<\/strong>)atua inibindo a recapta\u00e7\u00e3o de serotonina, bem como por bloqueio dos recetores 5HT2A e 5HT2C. Al\u00e9m disso, \u00e9 tamb\u00e9m capaz de bloquear os recetores \u03b1-adren\u00e9rgicos e H1. O seu efeito antidepressor \u00e9 dose-dependente, sendo nas doses mais baixas (25 mg-100 mg) utilizado como hipn\u00f3tico e nas doses mais altas (150 mg- -600 mg) utilizado como antidepressor.4,7<\/sup><\/p>\n\n\n\nMirtazapina a\u00e7\u00e3o noradren\u00e9rgica e serotonin\u00e9rgica espec\u00edfica<\/h2>\n\n\n\n A mirtazapina<\/strong> (nome comercial Remeron<\/strong>) aumenta a transmiss\u00e3o serotonin\u00e9rgica e noradren\u00e9rgica, bloqueando tamb\u00e9m os recetores \u03b1-adren\u00e9rgicos. Adicionalmente, tem atividade antagonista dos recetores histam\u00ednicos H1, que est\u00e1 associada \u00e0s suas propriedades sedativas. Praticamente n\u00e3o possui atividade anticolin\u00e9rgica e, em doses terap\u00eauticas, tem efeitos limitados sobre o sistema cardiovascular (por exemplo, hipotens\u00e3o ortost\u00e1tica). Quando comparada com outros antidepressores serotonin\u00e9rgicos apresenta menos efeitos secund\u00e1rios gastrointestinais. No entanto, pode induzir um aumento de apetite e de peso, o que a torna uma op\u00e7\u00e3o terap\u00eautica interessante, por exemplo nos idosos mais fr\u00e1geis, mas que pode ser uma limita\u00e7\u00e3o importante a ser considerada.4,7<\/sup><\/p>\n\n\n\nMoclobemida inibidor da monoaminoxidase (IMAO)<\/h2>\n\n\n\n A partir da d\u00e9cada de 60 do s\u00e9culo XX foram desenvolvidos f\u00e1rmacos que inibem o metabolismo das catecolaminas. Estes f\u00e1rmacos atuam por inibi\u00e7\u00e3o enzim\u00e1tica da monoaminoxidase (MAO), a enzima respons\u00e1vel pelo metabolismo da serotonina, noradrenalina, dopamina (DA) e tiramina na fenda sin\u00e1ptica. Existe uma importante intera\u00e7\u00e3o f\u00e1rmaco-alimento associada a esta classe. A tiramina \u00e9 uma monoamina derivada da tirosina, presente em v\u00e1rias bebidas e alimentos fermentados, como queijo e vinho. O facto de n\u00e3o haver uma inibi\u00e7\u00e3o seletiva da MAO no sistema nervoso central, faz com que esta enzima tamb\u00e9m seja inibida no intestino e f\u00edgado. Assim, ocorre uma diminui\u00e7\u00e3o da degrada\u00e7\u00e3o da tiramina absorvida destes alimentos, o que pode resultar num aumento da concentra\u00e7\u00e3o de NA e consequentemente num aumento de risco de crise hipertensiva. <\/p>\n\n\n\n
Uma vez que desta classe farmacol\u00f3gica a moclobemida <\/strong>(nome comercial Aurorix<\/strong>) \u00e9 o \u00fanico inibidor que \u00e9 revers\u00edvel, \u00e9 aquele que menor intera\u00e7\u00e3o apresenta com os alimentos. A moclobemida, em regra, n\u00e3o \u00e9 bem tolerada, apresentando um perfil de intera\u00e7\u00f5es f\u00e1rmaco-f\u00e1rmaco significativo e efeitos secund\u00e1rios frequentes, como seda\u00e7\u00e3o, confus\u00e3o mental, perda de coordena\u00e7\u00e3o motora, xerostomia, reten\u00e7\u00e3o urin\u00e1ria, obstipa\u00e7\u00e3o e aumento de peso. Por este motivo o uso deste f\u00e1rmaco est\u00e1 reservado a casos de depress\u00e3o resistente ao tratamento.4,7<\/sup><\/p>\n\n\n\nInibidores seletivos da recapta\u00e7\u00e3o de serotonina (ISRSs)<\/h2>\n\n\n\n A tentativa de criar mol\u00e9culas que mantivessem as propriedades antidepressoras e determinassem menos ou diferentes rea\u00e7\u00f5es adversas em rela\u00e7\u00e3o aos tric\u00edclicos e afins levou ao desenvolvimento dos ISRSs. Respons\u00e1veis por uma inibi\u00e7\u00e3o seletiva e potente da recapta\u00e7\u00e3o de serotonina (5HT), estes f\u00e1rmacos apresentam uma efic\u00e1cia semelhante aos antidepressores tric\u00edclicos, mas com melhor tolerabilidade e menor toxicidade em caso de sobredosagem, sendo por isso os mais usados numa primeira linha de tratamento das perturba\u00e7\u00f5es depressivas.4<\/sup>\u00a0Os inibidores seletivos da recapta\u00e7\u00e3o de serotonina s\u00e3o os seguintes:<\/p>\n\n\n\nFluoxetina (nome comercial Digassim)<\/li> Sertralina (nome comercial Zoloft)<\/li> Paroxetina (nome comercial Seroxat)<\/li> Citalopram <\/li> Escitalopram (nome comercial Cipralex)<\/li> Fluvoxamina (nome comercial Dumyrox)<\/li><\/ul>\n\n\n\nOs efeitos adversos mais comuns s\u00e3o no trato gastrointestinal, geralmente dose-dependentes. Cerca de 20% dos doentes tem queixas de n\u00e1useas, que frequentemente resolvem com a continua\u00e7\u00e3o do tratamento. Alguns doentes podem apresentar queixas de disfun\u00e7\u00e3o sexual, que \u00e9 revers\u00edvel com a descontinua\u00e7\u00e3o da terap\u00eautica. A suspens\u00e3o abrupta do tratamento com os ISRSs pode induzir s\u00edndrome de priva\u00e7\u00e3o, pelo que a descontinua\u00e7\u00e3o do tratamento deve ser feita gradualmente. Outra importante caracter\u00edstica desta classe farmacol\u00f3gica \u00e9 o facto de inibirem o CYP450, sendo por isso necess\u00e1rio, aquando da institui\u00e7\u00e3o desta terap\u00eautica, avaliar o risco de intera\u00e7\u00e3o farmacocin\u00e9tica.4,7<\/sup><\/p>\n\n\n\nInibidores da recapta\u00e7\u00e3o de serotonina e noradrenalina (IRSNs)<\/h2>\n\n\n\n Outra classe de antidepressores de aparecimento posterior \u00e9 a dos IRSNs. Esta classe terap\u00eautica apresenta uma a\u00e7\u00e3o dupla, inibindo os transportadores da serotonina e da noradrenalina. <\/p>\n\n\n\n
Venlafaxina (nome comercial Efexor)<\/li> Milnaciprano (nome comercial Ixel)<\/li> Duloxetina (nome comercial Cymbalta)<\/li><\/ul>\n\n\n\nS\u00e3o ainda capazes de uma ligeira inibi\u00e7\u00e3o da recapta\u00e7\u00e3o da DA. Como n\u00e3o t\u00eam afinidade para os recetores \u03b1-adren\u00e9rgicos, H1 ou M1, apresentam um perfil de rea\u00e7\u00f5es adversas mais favor\u00e1vel em rela\u00e7\u00e3o aos ISRSs e aos ADTs. No entanto, destaca-se o risco de aumento da tens\u00e3o arterial, dose-dependente, bem como o risco de arritmia, em situa\u00e7\u00f5es de sobredosagem, o que faz com que esta classe deva ser utilizada com precau\u00e7\u00e3o em doentes com patologia card\u00edaca significativa. Tal como nos ISRSs, alguns doentes podem apresentar disfun\u00e7\u00e3o sexual, revers\u00edvel com a descontinua\u00e7\u00e3o da terap\u00eautica. De real\u00e7ar ainda o menor efeito nas enzimas de metaboliza\u00e7\u00e3o hep\u00e1tica, em compara\u00e7\u00e3o com os ISRSs.4,7<\/sup><\/p>\n\n\n\nReboxetina inibidor seletivo da recapta\u00e7\u00e3o de noradrenalina (ISRNAs) <\/h2>\n\n\n\n A reboxetina<\/strong> (nome comercial Prolift<\/strong>) \u00e9 um f\u00e1rmaco inibidor potente e altamente seletivo da recapta\u00e7\u00e3o da noradrenalina. Tem apenas um efeito fraco na recapta\u00e7\u00e3o de 5HT e n\u00e3o afeta a capta\u00e7\u00e3o de DA. Por n\u00e3o apresentar afinidade significativa para os recetores adren\u00e9rgicos e muscar\u00ednicos tem menos efeitos secund\u00e1rios que os inibidores da recapta\u00e7\u00e3o de serotonina e noradrenalina.4,7<\/sup> <\/p>\n\n\n\nBupropiom inibidor seletivo da recapta\u00e7\u00e3o de dopamina e noradrenalina<\/h2>\n\n\n\n O bupropiom <\/strong>(nome comercial Wellbutrin<\/strong>) tem um mecanismo de a\u00e7\u00e3o distinto: \u00e9 um inibidor seletivo da recapta\u00e7\u00e3o neuronal das catecolaminas (NA e DA), desprovido de efeitos serotonin\u00e9rgicos, estando associado a um perfil diferente de rea\u00e7\u00f5es adversas. \u00c9 menos propenso a induzir efeitos adversos relacionados com a 5HT, como por exemplo a disfun\u00e7\u00e3o sexual e o ganho de peso. No entanto, em doses mais elevadas, este f\u00e1rmaco pode aumentar significativamente o risco de convuls\u00f5es, devendo ser utilizado com precau\u00e7\u00e3o em doentes com epilepsia ou em doentes a tomar concomitantemente f\u00e1rmacos que diminuam o limiar convulsivo. Al\u00e9m do seu efeito antidepressor, est\u00e1 tamb\u00e9m indicado como adjuvante em programas de cessa\u00e7\u00e3o do consumo de nicotina.4,7<\/sup> <\/p>\n\n\n\nAgomelatina agonista do recetor da melatonina e antagonista do recetor da serotonina<\/h2>\n\n\n\n Em 2010, foi comercializada a agomelatina<\/strong> (nome comercial Valdoxan<\/strong>), um agonista melatonin\u00e9rgico (recetores MT1 e MT2) e um antagonista 5HT2C. N\u00e3o tem efeito na absor\u00e7\u00e3o das monoaminas nem afinidade para os recetores \u03b1 e \u03b2 adren\u00e9rgicos, histamin\u00e9rgicos, colin\u00e9rgicos, dopamin\u00e9rgicos e benzodiazep\u00ednicos. Por ser capaz de ressincronizar os ritmos circadianos tem demonstrado efic\u00e1cia nas perturba\u00e7\u00f5es depressivas relacionadas com stresse e ansiedade.8<\/sup> <\/p>\n\n\n\nVortioxetina \u00e9 o mais recente modulador e estimulante da serotonina<\/h2>\n\n\n\n O antidepressor mais recentemente introduzido no mercado \u00e9 a vortioxetina<\/strong> (nome comercial Brintellix<\/strong>). Este tem uma a\u00e7\u00e3o moduladora direta da atividade dos recetores serotonin\u00e9rgicos e inibe o transportador da serotonina. Por ter uma a\u00e7\u00e3o em v\u00e1rios recetores 5-HT (antagonista dos recetores 5-HT3, 5-HT7 e 5-HT1D, agonista parcial do recetor 5-HT1B, agonista do recetor 5-HT1A e inibidor do transportador 5-HT), \u00e9 capaz de modular a neurotransmiss\u00e3o em v\u00e1rios sistemas, incluindo predominantemente o sistema da serotonina, mas provavelmente tamb\u00e9m os sistemas da noradrenalina, dopamina, histamina, acetilcolina, GABA e glutamato. Esta atividade multimodal \u00e9 considerada respons\u00e1vel pelos efeitos antidepressores e de tipo ansiol\u00edtico e pela melhoria da fun\u00e7\u00e3o cognitiva, aprendizagem e mem\u00f3ria.9 <\/sup><\/p>\n\n\n\nEfeitos secund\u00e1rios frequentes<\/h2>\n\n\n\n Os antidepressores podem ter efeitos secund\u00e1rios de primeira toma, como n\u00e1useas e cefaleias, que surgem tipicamente na fase inicial do tratamento e t\u00eam tend\u00eancia a regredir ap\u00f3s a primeira semana de tratamento. No entanto, outras rea\u00e7\u00f5es como efeitos anticolin\u00e9rgicos ou disfun\u00e7\u00e3o sexual tendem a persistir durante o tratamento e a sua avalia\u00e7\u00e3o deve ser individualizada. <\/p>\n\n\n\n
S\u00edndrome serotonin\u00e9rgica<\/h2>\n\n\n\n Os antidepressores que aumentem a atividade da serotonina, especialmente se forem utilizados em associa\u00e7\u00e3o, podem estar relacionados com a s\u00edndrome serotonin\u00e9rgica. Causada por um aumento excessivo da serotonina na fenda sin\u00e1ptica, esta s\u00edndrome \u00e9 caracterizada por hipertermia, rigidez muscular, mioclonias, tremores, instabilidade auton\u00f3mica, confus\u00e3o, irritabilidade e agita\u00e7\u00e3o, podendo evoluir para o coma ou at\u00e9 mesmo para a morte.4,7<\/sup> <\/p>\n\n\n\nRisco de suic\u00eddio<\/h2>\n\n\n\n \u00c9 ainda de ressalvar que transversalmente a todas as classes de antidepressores pode estar associado um risco de suic\u00eddio, pelo que altera\u00e7\u00f5es mentais e comportamentais que apare\u00e7am no decorrer da terap\u00eautica devem ser monitorizadas e avaliadas com precau\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n
Depress\u00e3o na crian\u00e7a e adolescentes<\/h2>\n\n\n\n A depress\u00e3o nas crian\u00e7as e adolescentes \u00e9 uma patologia multifatorial que afeta cerca de 2% das crian\u00e7as e 4 a 8% dos adolescentes, sendo ainda pouco diagnosticada. Pode surgir na sequ\u00eancia de acontecimentos traum\u00e1ticos para a crian\u00e7a ou o adolescente, ou estar relacionada com altera\u00e7\u00f5es bioqu\u00edmicas que afetam o sistema nervoso central. Os sinais e sintomas da depress\u00e3o nos adolescentes n\u00e3o diferem muito daqueles que se encontram nos adultos, nomeadamente sentimentos de tristeza, ansiedade e desmotiva\u00e7\u00e3o, dist\u00farbios do sono e do apetite, entre outros. No que diz respeito \u00e0s crian\u00e7as, predominam sintomas de irritabilidade e agressividade.10<\/sup> A abordagem terap\u00eautica da depress\u00e3o nas crian\u00e7as e adolescentes inclui a interven\u00e7\u00e3o cognitiva-comportamental e, quando necess\u00e1rio, terap\u00eautica farmacol\u00f3gica, embora os dados que suportam a efic\u00e1cia dos antidepressores em crian\u00e7as e adolescentes sejam escassos. <\/p>\n\n\n\nA fluoxetina e o escitalopram s\u00e3o antidepressores aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para o tratamento da depress\u00e3o em doentes com mais de 8 e 12 anos, respetivamente. A Ag\u00eancia Europeia do Medicamento (EMA) tamb\u00e9m aprovou a utiliza\u00e7\u00e3o de fluoxetina nas mesmas condi\u00e7\u00f5es. Contudo, a utiliza\u00e7\u00e3o off-label de outros antidepressores (ex. outros ISRS, bupropiom, venlafaxina, duloxetina ou mirtazapina) para a terap\u00eautica da depress\u00e3o nestas faixas et\u00e1rias \u00e9 tamb\u00e9m uma realidade, sobretudo em situa\u00e7\u00f5es em que n\u00e3o h\u00e1 resposta adequada aos f\u00e1rmacos aprovados.11<\/sup> \u00c9 ainda importante referir que, no in\u00edcio do tratamento, todos os antidepressores podem aumentar o pensamento e o comportamento suicida em crian\u00e7as, adolescentes e adultos jovens de 18 a 24 anos de idade, pelo que \u00e9 necess\u00e1rio estar particularmente atento a este risco.4<\/sup>\u00a0<\/p>\n\n\n\nDepress\u00e3o na mulher gr\u00e1vida e lactante<\/h2>\n\n\n\n A utiliza\u00e7\u00e3o de antidepressores na gravidez est\u00e1 associada com o aumento do risco de aborto espont\u00e2neo.6<\/sup> No entanto, a depress\u00e3o n\u00e3o tratada durante a gravidez e no per\u00edodo p\u00f3s-parto pode representar um risco tanto para a m\u00e3e como para o filho. Mulheres gr\u00e1vidas com depress\u00e3o t\u00eam mais tend\u00eancia para o consumo de drogas de abuso, nicotina e \u00e1lcool, bem como tendem a descurar os cuidados pr\u00e9-natais e a nutri\u00e7\u00e3o. Considerada como o maior fator de risco para o desenvolvimento de depress\u00e3o p\u00f3s-parto e para o aparecimento de efeitos negativos na intera\u00e7\u00e3o m\u00e3e-beb\u00e9, uma depress\u00e3o n\u00e3o tratada na gravidez pode condicionar o normal desenvolvimento do feto, bem como influenciar os futuros comportamentos do filho, podendo mesmo apresentar efeitos tardios na crian\u00e7a como atrasos no desenvolvimento e linguagem, dist\u00farbios mentais e problemas comportamentais.12<\/sup> Assim, \u00e9 importante que n\u00e3o se interrompa o tratamento antidepressivo durante a gravidez e que este seja institu\u00eddo sempre que o benef\u00edcio terap\u00eautico que se obt\u00e9m da utiliza\u00e7\u00e3o de antidepressores se sobreponha ao risco da depress\u00e3o durante a gravidez e no per\u00edodo p\u00f3s-parto, tanto para a m\u00e3e, como para o filho. <\/p>\n\n\n\nA escolha terap\u00eautica mais adequada nesta fase \u00e9 aquela que origina o m\u00ednimo poss\u00edvel de exposi\u00e7\u00e3o fetal ou do rec\u00e9m-nascido. Desta forma, as caracter\u00edsticas farmacocin\u00e9ticas dos diferentes f\u00e1rmacos t\u00eam de ser avaliadas, sendo mais seguros os que apresentam menor capacidade de atravessar a barreira\u00a0 placent\u00e1ria e de passar para o leite materno. Os inibidores seletivos da recapta\u00e7\u00e3o da serotonina n\u00e3o demonstraram ser especialmente teratog\u00e9nicos, com a maioria dos estudos a defender a seguran\u00e7a da fluoxetina e da sertralina. Esta \u00faltima tem-se destacado por ter uma menor distribui\u00e7\u00e3o placent\u00e1ria e, durante a lacta\u00e7\u00e3o, produzir n\u00edveis indetet\u00e1veis no plasma da crian\u00e7a.4,6<\/sup>\u00a0<\/p>\n\n\n\nDepress\u00e3o no idoso<\/h2>\n\n\n\n A depress\u00e3o nos indiv\u00edduos idosos \u00e9 frequente, sendo muitas vezes acompanhada por perda de iniciativa, perda de apetite, ins\u00f3nia, fadiga, queixas f\u00edsicas, perda de interesse nas atividades da vida di\u00e1ria e altera\u00e7\u00e3o nas fun\u00e7\u00f5es cognitivas, nomeadamente dificuldades de concentra\u00e7\u00e3o, distra\u00e7\u00e3o ou defeitos de mem\u00f3ria. De uma forma geral, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 abordagem farmacol\u00f3gica, deve iniciar-se com metade da dose inicial em rela\u00e7\u00e3o a adultos jovens e deve ser feito um aumento da dose de uma forma mais lenta. Os idosos podem precisar de 6 a 12 semanas de tratamento para atingir a resposta antidepressiva desejada. Os inibidores seletivos da recapta\u00e7\u00e3o da serotonina costumam ser considerados antidepressores de primeira escolha em indiv\u00edduos idosos, sendo que o bupropiom, a venlafaxina e a mirtazapina tamb\u00e9m s\u00e3o eficazes e bem tolerados.4<\/sup><\/p>\n\n\n\n<\/div>\n\n\n\n
Refer\u00eancias bibliogr\u00e1ficas<\/h3>\n\n\n\n 1.McQuaid J, Lin E, Barber J, Derner G, Breland-Noble A, Cuijpers P, et al. Clinical Practice Guideline for the Treatment of Depression Across Three Age Cohorts: American Psychological Association; 2019. [acedido a 30-04-2021] Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.apa.org\/depression-guideline\/guideline.pdf <\/p>\n\n\n\n
2. SPPSM – Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Sa\u00fade Mental. Perturba\u00e7\u00e3o mental em n\u00fameros. [acedido a 30-04-2021]; Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.sppsm.org\/informemente\/guia-essencial-para-jornalistas\/ perturbacao-mental-em-numeros\/. <\/p>\n\n\n\n
3. NIH – National Institute of Mental Health. Transforming the understanding and treatment of mental illnesses – Major Depression. [acedido a 30-04-2021]; Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.nimh.nih.gov\/health\/statistics\/ major-depression.shtml#part_155720. <\/p>\n\n\n\n
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5. Depression in adults: recognition and management: NICE: National Institute for Health and Clinical Excellence. Clinical Guidelines [CG90]; 2009. [acedido a 30-04-2021] Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.nice.org.uk\/ guidance\/cg90\/resources\/depression-in-adults-recognition-and-management-pdf-975742636741 <\/p>\n\n\n\n
6. Dire\u00e7\u00e3o-Geral da Sa\u00fade. Norma 034\/2012 – Terap\u00eautica Famacol\u00f3gica da Depress\u00e3o major e da sua Recorr\u00eancia no Adulto. 2012. <\/p>\n\n\n\n
7. Brunton L, Hilal-Dandan R, Knollman B. Goodman and Gilman’s The Pharmacological Basis of Therapeutics. 13th ed: McGraw-Hill Education; 2018. <\/p>\n\n\n\n
8. INFARMED IP. Resumo das caracter\u00edsticas do medicamento: Valdoxan\u00ae 25mg. 2018. [acedido a 30-04-2021] Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.ema.europa.eu\/en\/documents\/product-information\/valdoxan-epar-product-information_pt.pdf <\/p>\n\n\n\n
9. INFARMED IP. Resumo das caracter\u00edsticas do medicamento: Brintellix\u00ae 2018. [acedido a 30-04-2021] Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.ema.europa.eu\/en\/documents\/product-information\/brintellix-epar-productinformation_pt.pdf <\/p>\n\n\n\n
10.Marques C, Cep\u00eada T, Barrias P, Correia P, Goldschmidt T. Recomenda\u00e7\u00f5es para a Pr\u00e1tica Cl\u00ednica da Sa\u00fade Mental Infantil e Juvenil nos Cuidados de Sa\u00fade Prim\u00e1rios: Coordena\u00e7\u00e3o Nacional para a Sa\u00fade Mental; 2009. [acedido a 30-04-2021] Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.saudementalpt.pt\/backoffice\/pdfs\/0cce7d6de4.pdf <\/p>\n\n\n\n
11. American Psychiatric Association, American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. The Use of Medication in Treating Childhood and Adolescent Depression: Information for Patients and Families: [acedido a 30-04-2021] Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.aacap.org\/App_Themes\/AACAP\/docs\/resource_centers\/resources\/med_guides\/parentsmedguide_2010_depression.pdf <\/p>\n\n\n\n
12. Rama A, Santos A, Fernandez-Llimos F, Figueiredo I, Lopes J, Marques L, et al. Tratamento Farmacol\u00f3gico da Depress\u00e3o na Mulher Gr\u00e1vida: Imprensa da Universidade de Coimbra, Ordem dos Farmac\u00eauticos; 2014<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
A depress\u00e3o \u00e9 uma condi\u00e7\u00e3o cl\u00ednica caraterizada por um sentimento de tristeza e pela perda de interesse por atividades que antes eram tidas como agrad\u00e1veis. Quais os novos tratamentos?<\/p>\n","protected":false},"author":2,"featured_media":129,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"nf_dc_page":"","om_disable_all_campaigns":false,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":""},"categories":[16],"tags":[],"yoast_head":"\n
Depress\u00e3o vortioxetina e novos antidepressivos<\/title>\n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n \n\t \n\t \n\t \n \n \n \n\t \n\t \n\t \n